terça-feira, 23 de setembro de 2008

Lost in Life - episódio 8


Saiu do colégio correndo. Chorando. Depois, quando se cansou de correr, foi andando. Até chegar na casa da avó. Dessa vez tinha certeza de que ela estaria lá. Bateu na borta, nem precisou usar a campainha.
_ Yabii!
_ Vovó!
Jogou-se nos braços da avó mas cuidou para não derramar nenhuma lágrima naquele momento. Não queria que sua avó a visse chorando, assim como Yabi também não queria vê-la chorando.
_ Eu sinto muito, minha querida...
_ Eu posso entrar?
_ Ah, claro. Entre.

Sentaram-se no sofá as duas e ficaram em silêncio um minuto. Dois. Cinco. Dez. Até que a avó interrompeu o momento:
_ Tu sabes onde está a sua mãe..?
_ Não. A senhora sabe?
_ Minha querida..
_ O que aconteceu, vovó? - ela ficou curiosa.
_ Conte-me uma coisa. Tu sabes como era a relação entre teus pais?
_ Como assim como era a relação entre eles? Relação de marido e mulher...
_ Não é isso. Quero saber como estavam.. estavam de bem um com o outro? Ou haviam brigado?
_ O que está querendo dizer? Eles não estavam muito bem não.. Na verdade nunca estiveram muito bem. Mas por que a pergunta?
_ Ele batia na sua mãe, não batia?
_ Quem lhe disse isso?
_ Yabi, seu pai não está aqui. Pode me contar tudo.
_ Quem lhe disse?
_ Não importa. Seu pai não era bom com vocês duas.
_ Porque esse assunto agora? Onde está a mamãe, pode me dizer?
_ Não posso porque não sei.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Lost in Life - Episódio 7

O mundo ao seu redor girou tão rápido que por um momento pensou que fosse morrer. Sentiu uma profunda ânsia de vômito, e quando aquilo parou de girar, parou de uma vez. Não ouvia sons. Não via mais nada. Não sentia o próprio corpo. Não acreditava. Sentiu por um momento um alívio. Um alívio tão grande que sentia vergonha de admitir. Por isso não o fez.

_Yabi? Yabi? Você está aí?
Sentia algo assim... algo inexplicável. Era como se tudo aquilo não passasse de um sonho, um pesadelo, uma ilusão. Se sentia paralisada, ali, imóvel.
_Yabi? Yabi? - o telefone caiu de sua mão.
Em seguida, ela caiu, ilesa, no chão. O diretor ajoelhou-se para socorrê-la.
_Aluna? Aluna? Você está bem? - dava tapas em seu rosto mas ela não parecia reagir.

O diretor pediu à secretária um copo d'água e jogou-lhe no rosto. Foi quando ela acordou, sem acreditar no que acabara de ouvir.Se enxugou, e dessa vez bebeu a água para se acalmar, ao invés de levá-la na cara. Respirou fundo. Pensou. Pensou. Continuava sem acreditar. Mas e do que seu pai morrera? E onde estaria sua mãe, sumida há mais de um dia? Aquelas perguntas martelavam-lhe a cabeça quando o telefone tocou novamente. Ela não o atendeu, quem o fez foi o diretor, mas passou-lhe o recado que do colégio ela deveria voltar para a casa da avó, onde ficaria até que tudo se resolvesse. Quando recebeu o recado, engoliu a água toda que restava no copo num único gole, pegou as coisas e foi embora.

_ Você está muito nervosa, minha querida, não pode sair assim! - retrucou a secretária.
_ Me deixa!Ela saiu, ainda pasma, boqueaberta.

sábado, 6 de setembro de 2008

Lost in Life - episódio 6

Dormiu às 6 da tarde. Acordou sozinha, tomou um copo de leite puro, se arrumou e saiu para o colégio. No caminho lembrou-se que na bolsa só haviam roupas e uma toalha. Esquecera seus livros! Então voltou, pegou os livros das aulas do dia e saiu novamente. Perdera o ônibus, pra variar. Foi andando, de novo. Quando chegou no colégio, admirou-se em saber que na sala de aula ela havia sido chamada para comparecer à coordenação. Nunca antes havia sido chamada até lá. Nunca foi aluna exemplar, mas também nunca arranjara brigas no colégio ou pixara muros, quebrava cadeiras. Bem diferente de seu irmão, por sinal. Aliás, onde ele estava mesmo? Ah, provavelmente dormindo na casa de algum amigo. Ah, que péssima influência ele era para esses meninos!
_ Hayashi Yabi?
_ Sim, diretor.
_ Você é uma aluna novata?
_ Não senhor.. estudo aqui desde sempre.
Para variar, havia passado despercebida todos aqueles anos no colégio. Mas é claro que o nome de seu irmão, ele certamente saberia.
_ Hum.. muito bem.
_ Por que o senhor mandou me chamar?
_ Ligação para você. Sua avó. Disse que era importante e não tinha o número da sua casa, nem nenhum outro número. Pegou o número daqui no site do colégio. Pode ir lá na minha sala, ela a está esperando na linha.
_ Ah, claro. Obrigada.

Sua avó a estava ligando! Será que se preocupara pelas ligações não respondidas do dia anterior? Não... seu telefone fixo nem ao menos registrava chamadas não atendidas. Então o que a sua avó queria? O que a fizera levantar-se àquela hora da manhã e tirar-lhe da aula? Sua avó.. ah, vovó! Há quanto tempo não ouvia sua voz! Não importava o quisesse conversar, certamente seria bom conversar com ela.
Com as mãos trêmulas, pegou o telefone e posicionou-o à orelha.
_ Alô.. vovó?
_ Minha filha! Como tu estás? - Não sabia ao certo, mas ela gostava de falar complicado mesmo.
_ Estou bem, vovó! Mas que saudades de você! E a senhora, como está?
_ Não tiveste tu nenhuma notícia?
_ Notícia? Não senhora. Lá em casa a gente não fica sabendo muita coisa de você.

_ Tem falado com a sua mãe ultimamente?
_ Com mamãe? A última vez que a vira foi antes de ontem. Por que?
_ Seu pai faleceu.
_ Como?
_ Ontem à noite.