quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Lost in Life - episódio 5

Pegou um skate velho que havia tempos que não usava e em cima das rodinhas frágeis foi andando até a ruazinha reservada que passa por detrás da sua. Bateu na porta. Bateu de novo. De novo, e de novo.. mas ninguém atendia. Resolveu esperar. Meia hora.. uma hora.. Onde estaria sua avó? E seu primo? É bem verdade que não o via há um bom tempo. Dois anos? Talvez mais. Não sabia como ele ficara desde então.

Cansou de esperar. Acabou deixando o skate e voltou para casa a pé.. Imaginando como estaria seu primo. Ah, dois anos não era tanto tempo. Mas vai saber, né? Talvez ele estivesse mais alto, mais bonito, mais inteligente ou mesmo mais simpático.. afinal, coisa que ele não tinha muito era simpatia. O garoto era uma peste. Mas ela sabia que no fundo ele era um doce de pessoa.. afinal, os dois fizeram de tudo um pouco. Tudo que crianças poderiam querer fazer e que estivesse dentro de seus limites, esses dois fizeram! Saudades de quando tinham o mundo nas mãos...

Ela voltou para casa olhando para o céu.. quase que sonhando, naquela nostalgia que lhe enchia a alma de alegria... chegou em casa ainda assim, fora de si, como se estivesse drogada. Mas é claro que não estava. O curioso é que quando voltou para casa nem se deu conta de que o cachorro ainda era o único a zanzar pelos quartos.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Lost in Life - episódio 4

Lembrou-se de quando ia nos fins de semana na casa de sua avó. É verdade que era muito pequenina, mas se lembrava perfeitamente. Sabia guardar as coisas boas. Quando ela e seu primo - mais ou menos da sua mesma idade - sentavam no sofá, ao lado de sua avó e passavam a tarde a ouvir estórias sobre sua juventude.. Como era levada! Essa palavra, aliás, era dela mesma. E ela descrevia cada momento parcante com tanta precisão.. Com tantos detalhes, que os faziam pensar que estavam ali, vivendo aquilo com ela, vendo tudo o que se passava. E não eram estórias bobinhas, não. Eram estórias verdadeiras, estórias com emoção, partes de uma vida que fazia sentido.


A vida de sua avó fazia sentido.

A vida de seu primo fazia sentido.


Mas a dela não parecia fazer sentido... os pensamentos e as lembranças foram interrompidos pelo toque do telefone. Já parecia tocar há algum tempo, e ela nem percebera. Ainda correu para atender, mas já era tarde demais. Pensou em ligar para a sua avó. Ouvir uma estória. Outra estória. E outra, e outra... e quantas ela quisesse contar.


Decidiu não ligar. Poderia visitá-la, saber como está, abraçá-la. Sua avó a fazia sentir muito segura. Mais até do que ela se sentia no colégio. Nos braços dela, a garota se sentia intocável. Mas sua mãe não a deixava visitar a avó. Não deixava porque o pai não deixava. O que acontecia dentro daquela casa só podia ficar entre eles. Mas sua mãe não estava ali. Nem seu pai. Não pensou duas vezes. Correu para o quarto, enfiou umas roupas limpas dentro da bolsa junto a uma toalha, saiu e trancou a porta.

Lost in Life - episódio 3

Algumas pessoas choravam. Mas ela não. Por que? Quem seria o pobre coitado pelo qual três míseras pessoas choravam? E também não haviam muitas pessoas ali. As que estavam no local faziam silêncio em sinal de respeito, mas não havia carinho ali. Não havia saudade. Os olhos de alívio de alguns familiares desviavam de seus olhos. Os olhos de sua mãe pareciam tão vazios... mas quem era o tão mal amado dentro do caixão? Chegou perto. Mais perto. Ficou nas pontas dos pés, percebeu então que ainda era uma garotinha de sete anos. Olhou fixo dentro do caixão.

O quê?

Acordou, ofegante. Faltava-lhe ar e os olhos pareciam estar em outra dimensão. Fora só um pesadelo. Parecia tão, tão real... Como se fosse um flashback de uma parte de sua vida. Mas aquilo jamais ocorrera. O que fora então? Por que sonhara com algo que nunca havia pensado antes? Os olhos estavam pesados e ela ainda sentia sono. Como se quisesse voltar a dormir, como se quisesse terminar o sonho...

Mas lembrou-se que seus pais não estavam em casa quando chegara. Levantou-se da cama, procurou os chinelos em baixo da cama. Não os achando, saiu do quarto assim mesmo. Na sala não havia ninguém. Nem no quarto dos pais. Nem na cozinha. Nem nos banheiros. A casa estava completamente vazia. Exceto, é claro, por *dog*, que parecia dormir num cantinho perto do sofá. Há alguns dias o achara na rua sozinho e decidiu o levar para casa. Cuidou dele muito bem. Sua mãe nem se importou. Aliás, ela não parecia se importar com muita coisa ultimamente. Falando nela, saiu sem nem deixar um bilhete. Nunca foi de se prender em casa por causa de ninguém, mas sempre deixava um bilhete dizendo quando voltaria. Nada mais. Não gostava de dar satisfações, de dizer onde ia. Talvez por isso apanhasse tanto do marido. Mas ela continuava pensando que isso não era motivo.


Já eram quase seis da tarde e não havia ninguém em casa. Não se lembrava da última vez que ouviu aquele silêncio, aquele 'barulhinho" do silêncio. Talvez ela nunca tivesse ouvido o 'som' do silêncio. Dormia sempre sob gritos, soluços, sons de coisas quebrando.

domingo, 17 de agosto de 2008

Lost in Life - episódio 2


Apesar do corpo doído, levantou-se, jogou alguns livros para dentro da bolsa, arremessou-a para as costas e cruzou a porta. A partir dali sabia que não estava mais segura. Não como estava ali dentro. Por mais que a aula lhe soasse sacal e inútil, já que ela nunca conseguia aproveitar nada do que lhe era ensinado, ela preferia mil vezes estar ali do que do lado de fora. Ela se sentia segura, porque aquele era o seu porto seguro.

Mas não esperaria até que o zelador viesse tirá-la dali, como ocorrera da última vez. Mesmo não querendo, teria de voltar para casa, mais cedo ou mais tarde. Ela foi caminhando devagar, aproveitando para observar as árvores e os pássaros - já que ela já perdera o ônibus mesmo. Pensava no que veria dessa vez quando chegasse em casa. Pensava no que teria de suportar desta vez. Seria o de sempre.. ou quem sabe seus pais decidissem variar? Parou em frente à porta. Encostou o ouvido, não parecia haver alguém em casa, ela não escutava nenhum ruído. Bom sinal, então. Talvez seus pais tivessem decidido se separar ao invés de ficarem brigando todos os dias. Sua mãe inclusive já tinha hematomas demais, e nem pensava em denunciar o homem. Puxou a chave do bolso e abriu a porta. A casa estada em ordem - raridade.

Entrou, foi direto para o quarto. Precisava dormir um pouco. Há semanas não dormia direito. Sonhou com algo. Não se lembrava bem, mas parecia acontecer um velório. Por que ela não estava assustada em ver aquilo? Por aquilo lhe parecia tão reconfortante?

By.: Me

sábado, 16 de agosto de 2008

Lost in Life - episódio 1.


O sinal havia tocado. Mas ela não tinha forças para se levantar da cadeira. Talvez ela não quisesse. Qualquer pessoa normal não suportaria aquilo. O fato é que ela realmente não gostaria de sair dali. Mesmo que o professor falasse e ela não entendesse muita coisa - o sono era maior - aquilo certamente seria melhor do que o que ela poderia ver em casa. Lembrara-se do que o professor de história dissera na última aula:

"Encontre algo que nutra sua vontade de viver. Encontre algo pelo qual você morreria, e por isso você viverá."

Todos já haviam saído da sala. E ela se encontrava perdida em seus pensamentos. Qual fora a última vez que tivera cabeça para estudar para uma prova? Talvez não fosse má aluna se não estivesse sempre com a cabeça nas nuvens...

"Eu só quero dar o melhor de mim. Eu só quero chegar ao fim sabendo que cada minuto da minha vida valeu a pena."

Palavras dela. Dessa garota que estava no fundo do poço, completamente derrotada e fora de si. Ela que nunca imaginaria dizer isso depois. Ela que de tanto chorar, cansou. Ela que aprendeu que há coisas pelas quais não devemos nos preocupar. Ela que apanhou da vida e aprendeu com isso.

By.: Me

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

No reason to cry

Por que chorar?
Não há motivos para tal.
Não há porque derramarmos lágrimas de tristeza, pois quem nos fez chorar não merece nos ver assim ou sequer imaginar que estejamos assim. Quando felizes também não há razão. Por que não choramos somente quando queremos lubrificar nossos olhos? Não há motivos para chorar, por isso há pessoas que tentam não chorar. Eu sou uma delas. Mas não há como fujir, nós sempre choraremos, até o fim dos tempos. Não há razão para tentar o contrário, pois todos choram e não há como fujir disso.

Mesmo sabendo-se haver morte certa, nós sempre temeremos e fujiremos dela.

Mesmo sabendo que não deixaremos de chorar, tentaremos com todas as forças não fazê-lo. Porque essa é a vontade do ser humano. Fazer o impossível. Porque essa é a minha vontade.

'Eu estou tão empolgado, hoje eu irei morrer
Mas eu estou indo para o céu, então não tenho razão para chorar"