segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Lost in Life - episódio 13

Semanas se passaram. Yabi começou a estudar e prestar mais atenção à aulas. A vida não era tumultuada como antes, e ela nunca parou pra imaginar o que faria se não estive em constante medo de que estourasse, a qualquer momento, uma briga entre seus pais. Nunca imaginou como seria sua vida sem seu pai, e com sua mãe presa. Ainda que não quisesse imaginar que sua mãe fosse de fato a culpada, tinha que considerar a possibilidade de viver sem ela. Como seria? Como seria estudar e viver como as outras meninas do colégio? Poder sair e encontrar os colegas depois da aula?

A vida continuava. Continuava, mas não se mostrava tão diferente. Os hábitos eram os mesmos. Casa, colégio, casa, cama. Parecia que nada mudaria enquanto não soubesse que destino teria sua mãe. Nada mudaria enquanto não soubesse o que houve, e a menina estava assustada demais para perguntar. Porque sabia que era errado o que ela teria supostamente feito, e por outro lado, parecia justo. E na confusão entre ética e ressentimentos, era melhor que ficasse neutra. Por isso não tocava no assunto, não se envolvia. Agradecia haver alguém com a incubência de julgar, porque ela não se sentia nada confortável com isso.

Lost in life - episódio 12

Acordou com o corpo doído, sentia como se estivesse há anos dormindo! Também, pudera, devia ter dormido umas 20 horas direto... quando acordou, imaginou do que o pai teria morrido. Ninguém a dissera nada ainda... talvez fosse esse o tal assunto que sua mãe teria que conversar com ela. O homem bebia, mas não o bastante para ser chamado de alcóolatra ou morrer de cirrose. Também não tinha outros vícios, além de futebol. Talvez tivesse morrido num acidente de carro, ou sabe-se lá... Parou de pensar quando sentiu o cachorro lamber-lhe os lábios: "sai daqui, não quero beijo de cachorro!" Pôs os chinelos e desceu cambaleando. A avó estava na sala, tomando um café. Não falou da mãe, do pai, de ninguém. Apenas disse "bom dia" e ligou a televisão. As mesmas notícias de sempre, nada de diferente. Sentou do lado da avó. Esperou que ela dissesse algo, mas ela não abriu a boca. Então a menina pegou um pão na cozinha, enrolou num papel e guardou no bolso. Pôs a coleira no cachorro e saiu de casa.

Já faziam quantos dias que não ia à escola? Dois? Três? A escola já foi tanto um refúgio de seu pai, que agora sem ele, parecia não ter mais utilidade alguma. Sentia-se livre por um lado, e presa por outro. Livre de seu pai, livre da pressão psicológica, livre do cheiro de álcool e perfume de mulher. Livre dos jogos de futebol, de chororô da mãe. E ainda assim, presa por tudo. Presa pelo passado.

Resolveu ir até a praça onde comprara o cachorro-quente no dia anterior procurar o rapaz simpático que tinha conhecido, mas não o encontrou. A praça parecia vaga demais naquele dia, como se todos tivessem dedicido ficar em casa. Resolveu que voltaria ao colégio no dia seguinte, que não valia a pena viver vagando por aí procurando por pessoas quem nem se quer sabia o nome.

Como decidido, foi à escola no outro dia. Os colegas cochichavam, e alguns perguntaram o que havia acontecido. Mais por curiosidade do que preocupação, imaginava ela. Ela só respondia "meu pai morreu" e não comentava nada mais, até porque nem ela sabia. Quando terminou a aula, juntou os livros e saiu. Talvez a primeira vez em que saía com todo mundo, ao invés de sozinha, enxotada pelo zelador. Não pegou um ônibus, voltou a pé, e quando chegou na casa da avó, mais uma vez, só encontrou ela em casa. Perguntou pela mãe.
_ A sua mãe saiu, foi dar um depoimento. Ela foi chamada pra depor sobre a morte de seu pai. Desconfiam que..
_ Desconfiam?
_ Que ela o matou.
_ Mas como assim? Ela não o matou! Certo?
_ Ele foi esfaqueado. Quando encontraram o corpo e fizeram a biópsia, não conseguiram entrar em contato com ela. A essa hora devem estar perguntando onde ela estava.
_ Então era isso... que ela devia falar comigo...
_ Passei a tarde pensando em como lhe contar isso. Preferi ser direta com você, querida.

Depois disso subiu para o quarto e passou o dia folheando os livros do colégio. As provas estavam chegando e ela não sabia nem os nomes dos professores. Certamente esse não era o melhor momento para mudar isso, mas algum momento isso tinha de ser feito...