segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Lost in life - episódio 12

Acordou com o corpo doído, sentia como se estivesse há anos dormindo! Também, pudera, devia ter dormido umas 20 horas direto... quando acordou, imaginou do que o pai teria morrido. Ninguém a dissera nada ainda... talvez fosse esse o tal assunto que sua mãe teria que conversar com ela. O homem bebia, mas não o bastante para ser chamado de alcóolatra ou morrer de cirrose. Também não tinha outros vícios, além de futebol. Talvez tivesse morrido num acidente de carro, ou sabe-se lá... Parou de pensar quando sentiu o cachorro lamber-lhe os lábios: "sai daqui, não quero beijo de cachorro!" Pôs os chinelos e desceu cambaleando. A avó estava na sala, tomando um café. Não falou da mãe, do pai, de ninguém. Apenas disse "bom dia" e ligou a televisão. As mesmas notícias de sempre, nada de diferente. Sentou do lado da avó. Esperou que ela dissesse algo, mas ela não abriu a boca. Então a menina pegou um pão na cozinha, enrolou num papel e guardou no bolso. Pôs a coleira no cachorro e saiu de casa.

Já faziam quantos dias que não ia à escola? Dois? Três? A escola já foi tanto um refúgio de seu pai, que agora sem ele, parecia não ter mais utilidade alguma. Sentia-se livre por um lado, e presa por outro. Livre de seu pai, livre da pressão psicológica, livre do cheiro de álcool e perfume de mulher. Livre dos jogos de futebol, de chororô da mãe. E ainda assim, presa por tudo. Presa pelo passado.

Resolveu ir até a praça onde comprara o cachorro-quente no dia anterior procurar o rapaz simpático que tinha conhecido, mas não o encontrou. A praça parecia vaga demais naquele dia, como se todos tivessem dedicido ficar em casa. Resolveu que voltaria ao colégio no dia seguinte, que não valia a pena viver vagando por aí procurando por pessoas quem nem se quer sabia o nome.

Como decidido, foi à escola no outro dia. Os colegas cochichavam, e alguns perguntaram o que havia acontecido. Mais por curiosidade do que preocupação, imaginava ela. Ela só respondia "meu pai morreu" e não comentava nada mais, até porque nem ela sabia. Quando terminou a aula, juntou os livros e saiu. Talvez a primeira vez em que saía com todo mundo, ao invés de sozinha, enxotada pelo zelador. Não pegou um ônibus, voltou a pé, e quando chegou na casa da avó, mais uma vez, só encontrou ela em casa. Perguntou pela mãe.
_ A sua mãe saiu, foi dar um depoimento. Ela foi chamada pra depor sobre a morte de seu pai. Desconfiam que..
_ Desconfiam?
_ Que ela o matou.
_ Mas como assim? Ela não o matou! Certo?
_ Ele foi esfaqueado. Quando encontraram o corpo e fizeram a biópsia, não conseguiram entrar em contato com ela. A essa hora devem estar perguntando onde ela estava.
_ Então era isso... que ela devia falar comigo...
_ Passei a tarde pensando em como lhe contar isso. Preferi ser direta com você, querida.

Depois disso subiu para o quarto e passou o dia folheando os livros do colégio. As provas estavam chegando e ela não sabia nem os nomes dos professores. Certamente esse não era o melhor momento para mudar isso, mas algum momento isso tinha de ser feito...

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