sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Lost in Life - episódio 3

Algumas pessoas choravam. Mas ela não. Por que? Quem seria o pobre coitado pelo qual três míseras pessoas choravam? E também não haviam muitas pessoas ali. As que estavam no local faziam silêncio em sinal de respeito, mas não havia carinho ali. Não havia saudade. Os olhos de alívio de alguns familiares desviavam de seus olhos. Os olhos de sua mãe pareciam tão vazios... mas quem era o tão mal amado dentro do caixão? Chegou perto. Mais perto. Ficou nas pontas dos pés, percebeu então que ainda era uma garotinha de sete anos. Olhou fixo dentro do caixão.

O quê?

Acordou, ofegante. Faltava-lhe ar e os olhos pareciam estar em outra dimensão. Fora só um pesadelo. Parecia tão, tão real... Como se fosse um flashback de uma parte de sua vida. Mas aquilo jamais ocorrera. O que fora então? Por que sonhara com algo que nunca havia pensado antes? Os olhos estavam pesados e ela ainda sentia sono. Como se quisesse voltar a dormir, como se quisesse terminar o sonho...

Mas lembrou-se que seus pais não estavam em casa quando chegara. Levantou-se da cama, procurou os chinelos em baixo da cama. Não os achando, saiu do quarto assim mesmo. Na sala não havia ninguém. Nem no quarto dos pais. Nem na cozinha. Nem nos banheiros. A casa estava completamente vazia. Exceto, é claro, por *dog*, que parecia dormir num cantinho perto do sofá. Há alguns dias o achara na rua sozinho e decidiu o levar para casa. Cuidou dele muito bem. Sua mãe nem se importou. Aliás, ela não parecia se importar com muita coisa ultimamente. Falando nela, saiu sem nem deixar um bilhete. Nunca foi de se prender em casa por causa de ninguém, mas sempre deixava um bilhete dizendo quando voltaria. Nada mais. Não gostava de dar satisfações, de dizer onde ia. Talvez por isso apanhasse tanto do marido. Mas ela continuava pensando que isso não era motivo.


Já eram quase seis da tarde e não havia ninguém em casa. Não se lembrava da última vez que ouviu aquele silêncio, aquele 'barulhinho" do silêncio. Talvez ela nunca tivesse ouvido o 'som' do silêncio. Dormia sempre sob gritos, soluços, sons de coisas quebrando.

Um comentário:

João Guilherme disse...

Espero que seja uma história